quarta-feira, 12 de dezembro de 2012




1.CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES



            Este estudo tem por objetivo analisar a obra poética madura de Emiliano Perneta (1866-1921) -- doravante, EP --, o poeta paranaense que, após formar-se em Direito em São Paulo, viveu no Rio de Janeiro (1890-1892) e ali participou do primeiro grupo de autores simbolistas do País, sendo por isso considerado um dos iniciadores desse movimento na literatura brasileira. Em 1896, o poeta retornaria a seu Estado natal, para daqui não mais sair, a não ser por curtos períodos. 
                                                          
Por que estudar a sua poesia? Qual o sentido de alguém debruçar-se hoje sobre o seu livro mais importante – “Ilusão”, publicado em Curitiba no longínquo ano de 1911 -- e as publicações posteriores, “Pena de Talião” e “Setembro”?

            Em primeiro lugar, porque se trata do poeta paranaense que mais se destacou na história da nossa literatura. Aliás, Nestor Vítor escreveu isso, por ocasião da morte de EP: “o falecimento do maior poeta que até aqui nasceu e viveu no Paraná.1 Ele é produto do nosso meio social, e reflete, à sua maneira, e em seu tempo, o modo de pensar e sentir desta terra.   

            Outra razão é a pequena quantidade de estudos disponíveis, em livro, tratando sistematicamente do assunto, o que fez Alfredo Bosi (na “História Concisa da Literatura Brasileira”) recomendar que a poesia de EP fosse mais estudada.

            Já em 1965, às vésperas do centenário de nascimento de EP, quando frequentei, ainda aluno do Colégio Estadual do Paraná (antigo Ginásio Paranaense, onde EP foi professor, na primeira década do século) 2, um curso sobre análise literária prelecionado pelo poeta Tasso da Silveira, este mesmo já nos havia feito tal recomendação. 

            Tasso, filho do poeta simbolista Silveira Neto, contemporâneo de EP, era também seu afilhado, e por aí se vê como as gerações que se sucedem vão transmitindo a “mística de Emiliano”... tão criticada por Dalton Trevisan!

            Ironias à parte, o que me interessa no caso é avaliar a qualidade dessa poesia, uma vez que sobre ela não existe consenso. Como se verá no capítulo 5, as opiniões divergem muito sobre o seu valor. Apenas para citar o exemplo mais extremo, enquanto Dalton Trevisan o considera um “poeta medíocre” (ou nega-lhe mesmo a condição de poeta), Wilson Martins afirma ser Emiliano poeta de “alta qualidade”, autor de um dos mais belos poemas de nossa literatura, e de alguns versos lapidares. E outro crítico de prestígio nacional, este não radicado no Paraná -- José Guilherme Merquior -- afirma que EP, juntamente com B.Lopes, compõe a dupla de representantes “de real interesse” do decadentismo brasileiro.  Além disso, para ele, “Perneta é antes de tudo um bom lírico erótico”.  Estranhamente, a nossa produção universitária manteve-se alheia ao debate dessa questão, apesar dela ser tão pertinente à área de Letras...

            Mas como se avalia a qualidade de uma poesia? Naturalmente, pelo contato direto com os poemas. Os versos em si mesmos valem mais do que mil opiniões. Porém para alcançar esse objetivo é preciso que eles sejam bem apreendidos quanto ao seu significado (nos sentidos denotativo e conotativo), quanto à sua imagística, ao modo como se expressam foneticamente etc.

            A reunião desses subsídios constitui o conteúdo básico deste livro. Ao longo do “passeio” pelos versos e poemas de EP -- ao longo das cinco rotas percorridas, adiante indicadas – vou colhendo elementos úteis para uma avaliação pessoal dessa poesia. Eles servem também para avaliar a maior ou menor justeza das opiniões emitidas sobre ela, por parte de notáveis escritores brasileiros, sumarizadas no capítulo final deste trabalho.    
                                              
            O meu objetivo é, portanto, analisar a obra poética madura de EP -- representada por “Ilusão” (a coletânea de poemas mais festejada da literatura paranaense), o poema dramático “Pena de Talião” e a obra póstuma “Setembro” -- a fim de colher subsídios para a avaliação da qualidade de sua poesia. EP, em 1911, quando do lançamento de “Ilusão”, foi coroado “príncipe dos poetas paranaenses” em cerimônia realizada no Passeio Público de Curitiba, nos moldes das que ocorriam na Grécia antiga, fonte permanente de inspiração para as iniciativas idealistas de Dario Veloso, fundador do Instituto Neopitagórico, em Curitiba. 

                                                                        * 

A minha atenção voltou-se para aquelas características que têm sido apresentadas pela poesia de alta qualidade ao longo do tempo. Trata-se de uma  poesia que expressa a verdade da condição humana, donde decorre a sua capacidade de emocionar. Mas expressa tal conteúdo de modo cativante, prazeroso (prazer estético), por meio de uma linguagem única, característica do poeta, linguagem essa povoada de imagens e sons peculiares. As imagens revelam originalidade, diversidade e cativam o leitor. Os sons são usados esteticamente: o modo do poeta trabalhar com fonemas, rimas, assonâncias, aliterações etc  resulta em  maior expressividade, eufonia e musicalidade do verso.

O meu interesse maior foi, portanto, o aspecto estritamente literário da obra em questão, embora ela possa também ser considerada sob outros pontos-de-vista (psicológico, sociológico ou filosófico). Esta é, portanto, uma das muitas viagens possíveis no reino da Ilusão. A ênfase do estudo recai sobre o exame da linguagem utilizada pelo poeta, chamando a atenção do leitor para aspectos que, de outra forma, poderiam passar despercebidos. Essa linguagem busca, naturalmente, expressar certas idéias, que procurei identificar e sistematizar. A informação biográfica conhecida, ou de outra natureza, foi também incorporada ao estudo, sempre que se julgou conveniente, para ilustrar alguma observação  particular.

                                                          *

Para alcançar o objetivo antes mencionado, adotei os seguintes procedimentos metodológicos:

1.-após uma leitura atenta dos poemas, identifiquei um conjunto de idéias-mestras, que, na minha interpretação, definem o conteúdo essencial da obra em estudo. Por isso, elas servem também para a estruturação do cerne deste  trabalho (capítulo 3);

2.-a seguir, arrolei os versos mais representativos de tais idéias-mestras; este procedimento permite avaliar, em conjunto, as recorrências da mesma idéia-mestra, em diferentes poemas, enriquecendo a sua compreensão pelo exame das peculiaridades dos diversos excertos citados; 

3.-uma vez definido o arcabouço geral deste trabalho, agreguei, aos versos já citados, informação sucinta sobre os poemas de onde eles provieram, seus temas e assuntos, seus personagens, situados num determinado espaço e tempo, para proporcionar ao leitor uma ampla visão do conteúdo da obra poética estudada;

4.-considerei as características formais dos poemas antes citados por causa de seu conteúdo, de modo a explicitar a funcionalidade da forma relativamente a esse mesmo conteúdo. As observações a esse respeito referem-se ao papel desempenhado pelas imagens empregadas (comparações, metáforas, símbolos etc) bem como ao ritmo dos versos, destacando-se aqui suas  características métricas, fonéticas e outras.
           As citações de versos, que originalmente visavam apenas ilustrar aspectos relacionados às idéias-mestras, foram assim ampliadas para incorporar as  características formais que julguei interessante salientar.

            Uma preocupação central foi sempre identificar recorrências no exame dos poemas, pois é nas recorrências -- ou nos padrões conteudísticos e formais -- que fica explicitado o que é realmente característico da obra, o que distingue um autor do outro.

Uma vez concluídas as etapas acima mencionadas, acredito ter obtido os elementos essenciais para possibilitar o julgamento sobre a qualidade da poesia de EP, que consta no capítulo 5.



Notas ao capítulo 1


1 VÍTOR, Nestor – “Obra Crítica”- v. III, Rio de Janeiro, Fundação Casa de Rui Barbosa/ Curitiba, Secretaria de Estado da Cultura e do Esporte, 1979, p. 52

2 Andrade MURICY afirmou, em “Emiliano Perneta”, Rio de Janeiro, 1919, p. 50, ter sido seu aluno de Português e Literatura em 1909 no Ginásio Paranaense. Segundo ainda Muricy,   EP foi professor do Ginásio e Escola Normal até 1911, quando optou pela Auditoria de Guerra, “que exerceu até falecer” (cf. “Emiliano Perneta”. Col. Nossos Clássicos nº 43, 2a. ed., Rio de Janeiro, Agir, 1966, p.4). Cf. também depoimento de Raul GOMES: “Emiliano, como professor” in “Revista da Academia Paranaense de Letras”, ano III, nº 9, jan-fev 1941, pp.36-38 

Um comentário:

  1. Casino Site | Get a 100% up to € 200 Welcome Bonus
    Casino Site. Free Spins Bonus. 1st Deposit. No Wagering. 100% Match Up to € 200! New luckyclub.live players can claim 10 free spins

    ResponderExcluir