3.4.4- A mulher
O tema do amor sensual ocupa um espaço muito importante na obra poética de
EP. Nas palavras de J.G.Merquior, “Perneta é antes de tudo um bom lírico erótico”.18 Já bem antes dele, em 1911, Nestor Vítor dissera a
esse respeito:
Ora, o que representa na maioria de suas páginas a
“Ilusão” é um diário de amor. Nesse ponto elas nos são bem patrícias, são bem
meridionais, bem do trópico mesmo, indo da ternura
desinteressada até a extrema lascívia pelas mulheres.
E prossegue o crítico paranaense afirmando que, nessas páginas, EP nada
tem “daquela atitude quase impassível de
esteta exclusivo que ostenta nas suas estrofes inigualáveis” Charles Baudelaire.19
Além dos poemas com esse tema, apresentados abaixo, recebem um
tratamento erótico determinadas situações em poemas sobre outros assuntos,
mencionados ao longo deste trabalho, como, por exemplo, aquele belo verso,
destacado por Merquior, de “Baucis e Filemon” – “Tarde de olhos azuis e de seios morenos”, ou a fala da floresta dirigindo-se ao sol:
— Ó delírio brutal! Quando me mordes tu
A carne toda em flor, o seio todo nu,
Com teus beijos de fogo, eu como a flor do nardo
Rescendo de prazer, e de luxúrias ardo... (“Sol”)
*
A mulher representa, para o poeta, a esperança (cf. título do soneto
cujos tercetos são transcritos abaixo) dele superar o tédio:
Tudo, tudo me causa horror. A vida, enfim,
Como um castelo desabou neste momento... (1)
Mas, ah! que uma mulher passa a roçar por mim...
E eu esquecido já do mal que ela me fez,
Vendo-A sorrir, assim, mais leve do que o vento (2)
Atrás dela saí correndo, inda uma vez!... (“Esperança”)
---------------
(1) Cf. a comparação
(2) Cf. a comparação (recorrente) entre o “peso” de
algo (no caso, do sorriso) e o do vento, ambos metaforicamente materializados, para
produzir sinestesia
No soneto “Embarque para Citera”, o amor também subordina o
desejo de viajar, de evasão ou de morte (o poeta menciona a viagem pelo mar nos
versos precedentes aos citados abaixo). Citera, referida nos versos de
Baudelaire, é uma ilha do arquipélago a noroeste da ilha de Creta que, na
Grécia antiga, era consagrada a Vênus. Após nascer das ondas do mar, essa deusa
tocou em terra firme, pela primeira vez, nessa ilha 20:
Quando o encanto, porém, sorri, quando me vejo,
Ora num coração, ora noutro, que esteve
A palpitar por mim de orgulho e de desejo;
Ah! quando vibro assim! É melhor, na verdade,
Que se andasse no mar, numa trirreme leve,
De prazer em prazer, de cidade em cidade...
Além de “Embarque para Citera”, outros poemas também fazem o elogio
do amor, ou da amada:
“Versos doirados”, por
exemplo. Os versos são “doirados” porque expressam a alegria, a glorificação da
relação amorosa na juventude, quando se está
Envolto no
ouro de um silêncio de veludo, (1)
Coroado,como
um deus,dos pâmpanos de enganos,(2)
E das rosas
em flor dos vinte e poucos anos,”
---------------
(1) Cf. a
sinestesia
(2) Cf. a comparação. Pâmpanos =
ramos tenros de videira (dic. Aurélio).
Também o elogio ao amor feito pelo
poeta Aminto no banquete de núpcias de “Pena de Talião” inicia
referindo-se à juventude:
Céfalo e Prócris, ergo a minha taça,
Para beber, amigos, à saúde,
À glória, à força, à primavera, à graça,
À frescura, à beleza e à juventude...
..................................................................
Depois, o
poeta aconselha aos nubentes:
Fundi-vos, pois, no amor. É o que nos resta
Ainda de bom, por estes belos dias;
Quem ama, vive numa
eterna festa,
Porque a beleza é a flor das alegrias. (1)
Nos róseos lábios da mulher, que se ama,
No seu contacto de veludo e arminho, (2)
Há mais embriaguez e há maior chama
Do que em todos os cíatos de vinho... (3)
.......................................................................
Fazei do amor uma canção querida, (4)
É isso o que de mais puro vos desejo;
E que possais dizer, no fim da vida,
Que a vida foi um luminoso beijo; (4)
Que os vossos dias foram como as rosas, (3)
E as vossas noites, lânguidas e belas,
Noites de prata, noites radiosas,
Inúmeras e finas, como estrelas!... (3) (Ato I, Cena III)
---------------
(1) Cf. a metáfora, e também a recorrência da
identificação da beleza com a alegria
(2)
Cf. a sinestesia. Arminho= pele “macia e alvíssima no inverno” de um mamífero das regiões
polares (dic. Aurélio)
(3)
Cf. a comparação. Cíato= “Vaso com asa, com o qual se tirava o vinho da cratera para
despejá-lo nos copos dos convivas” (dic. Aurélio)
(4) Cf. a metáfora
Nas
estrofes omitidas, o poeta aconselha os noivos a envolverem seu amor com a
natureza, que seus beijos tenham a beleza, o gosto, o cheiro etc “Dos campos, e
das frutas, e das flores...” A
natureza assim fornece a referência estética para EP, pois ela, i.e. o mundo
material -- conforme as idéias expostas na introdução ao capítulo 3.2 -- está
em correspondência com o mundo espiritual, fonte de beleza e de outros valores
do espírito superior, na concepção do poeta.
Em “Posto
que já...” há um elogio à beleza da amada que envelhece:
Posto que já esse frescor, e esse
Brilho com que uma vez me seduziste,
Não fuljam tanto, a primavera existe,
E inda canta, e inda sonha, e inda floresce...
Saliente-se,
na quadra acima, a personificação da primavera, assim como a anáfora do verso em que ela “canta” e
“sonha”, verso semelhante, na estrutura, ao de “Quando um poeta nasceu...”:
“Inda sonha, inda crê, inda deseja e espera!...”
No soneto “A uma desconhecida”, de
“Setembro”, a beleza da mulher também sofre a passagem do tempo. Ela é chamada,
no v.9, de “ó doce fim de outono”,
comparando-se, implicitamente, a vida humana ao ano, dividido em quatro
estações. 21 A imagem do outono, estação
que antecede o inverno, com suas consequências sobre a natureza, é explorada, e
é metaforicamente associada à beleza daquela “desconhecida”. Por sua vez, o
poeta se compara ao vento:
Ah, pudesse eu falar-te, um dia,
voluptuosa,
Sem palavras, assim
como uma sombra estranha, (1)
Como zéfiro fala ao ouvido da rosa!
(2)
---------------
(1)
Cf. a comparação;
note-se a conotação decorrente do uso da palavra homônima “cem” em vez de
“sem”; note-se também o uso dos sons sibilantes em toda estrofe, relacionados à
ação do vento
(2)
Cf. a
personificação
Esse poema é um exemplo a mais
de como a imagística de EP, em suas diversas áreas temáticas, procura
conscientemente associar-se aos elementos da natureza, de acordo com os
pressupostos estéticos dessa poesia.
A associação entre a passagem
do tempo e o amor também ocorre no soneto “Entre essa irradiação”.
O poeta afirma aí que poderia ter encontrado uma certa mulher, idealizada, em
meio a uma “irradiação enorme” (irradiar=
expelir raios luminosos), “Como a sonora luz de
Vênus Afrodita” (cf. a comparação e a sinestesia), sem ele saber se seus
cabelos seriam negros ou dourados, ou a cor dos olhos
Os
olhos de que cor? Não sei. Porém suponho
Que
seriam assim tão grandes como um sonho...(1)
Mas
já passei a vida, e não a pude ver! (2)
--------------
(1) Cf. a comparação
(2) Note-se o uso insólito do verbo “passar” nesse verso
Essa mulher poderia ser aquela
“dama de olhos verdes” pela qual o
cavaleiro de “Dama” se bate...ou seja, a Beleza personificada. Mas o
soneto não revela a sua identidade, permanecendo no terreno do mistério.
Conforme Andrade Muricy, o poema “Revive o tema
do “Mon rêve familier”, de Verlaine, em
versão subtropical, com aquele ‘girassol’ realmente solar” 22 (o soneto afirma
que ela é um girassol, que de dentro do poeta desabrocharia “para a luz infinita”).
Em “A felicidade”, de
“Setembro”, a passagem do tempo também ocupa um papel importante. Nesse soneto
incomum,de versos bem espontâneos, o poeta se dirige a uma bela mulher, de quem
acaba de receber flores e lhe é promissora. Ele esperou muito tempo por ela, no
passado.Mas agora,que ela chega,é tarde demais...
*
Os “Versículos
de Sulamita”, compostos das seis quadras abaixo, são diretamente inspirados
no “Cântico dos Cânticos”, e consistem, certamente, no poema de maior
sensualidade erótica. É ela quem fala, nos versos. Sulamita, como é chamada a
noiva naquele livro bíblico, arde de desejo por Salomão, e compraz-se em
oferecer seu corpo a ele, referindo-se ao seu seio, umbigo, coxas etc:
I
Ontem,
atrás de ti, por essas ruas, toda
Furiosa,
caminhei, nesta Jerusalém;
Mas
supondo talvez que eu estivesse douda,
A
guarda me espancou e me feriu, meu bem.
II
Vem,
Salomão gentil, vem, ó meu rei amado,
Toda
a noite passei velando, não dormi
Um
instante sequer, de anseio e de cuidado...
Tenho
fome de ti, tenho sede de ti! (1)
III
Os
meus seios estão mais rijos que uma pera, (2)
Túmidos
de desejo e de suspiros vãos,
Que
bom de me fundir, como se fosse cera, (2)
Ao
calor ideal dessas pálidas mãos!
IV
Tu
dizes, meu amor, que meu umbigo é como (2)
Uma
taça a ferver de espuma e embriaguez;
Vem
beber esse vinho e comer esse pomo, (1)
Vem
te embriagar de mim e da minha nudez...
V
Estes
lábios são teus, estas coxas são tuas,
Vem,
ó rei Salomão, meu corpo é todo teu,
Vem
devorar aqui as minhas pomas nuas, (3)
O
fruto saboroso e ácido que sou eu... (1)
VI
Vem,
que morro por ti! Pois mal te sinto e logo
Com
a mão a gotejar, como um destilador, (2)
A
mirra, abro-te a porta, as entranhas em fogo, (1)
Rugindo,
como se fosse incêndio, de amor!” (2)
---------------
(1)
Cf. a(s) metáfora (s)
(2)
Cf. a comparação
(3)
Pomas= seios (dic. Aurélio)
Em primeiro lugar, destaque-se
a forte influência da Bíblia sobre os versos de “Ilusão”, de seus personagens
(cf. relação no capítulo 4) e situações, em que deve ter desempenhado algum
papel a ascendência judaica do poeta (que também descendia da nobre raça
negra).
A Bíblia representa um conjunto
de lendas e mitos, que expressam o caráter da civilização ocidental, assim como
a mitologia greco-latina, também muito presente nos poemas. Ambas contêm
verdades sobre a nossa natureza mais recôndita, mascaradas pelas aparências da
ficção. Trata-se da verdade que o mito sempre encerra...
Quanto ao poema em questão, é
de se salientar -- além da recorrência do nome “Sulamita”, que aparece também
em outras composições como sinônimo da jovem sensual – as referências à
natureza, nas metáforas e comparações relativas ao corpo dela. Assim, os seios
são comparados à “pera”; ela é um “pomo” ou um “fruto
saboroso e ácido” a ser provado, e suas “entranhas
em fogo” rugem de amor (rugir é próprio de um certo tipo de animais, os
quais representam a força dos instintos) 23. Também os eufemismos em certas situações
eróticas, nas duas últimas estrofes, devem ser destacados (eufemismos
aparecerão também em alguns outros poemas). Houve certamente alguma influência
do Naturalismo, então em voga, na composição desses versos carregados de erotismo, explícito ou velado.
A propósito, cabe lembrar que EP foi colega de redação de Júlio Ribeiro, o
autor do famoso romance naturalista “A Carne”, e sobre ele escreveu uma crônica
elogiosa, quando o escritor faleceu. 24
O poeta não hesita ainda em
estabelecer comparações pouco convencionais (os seios vão se fundir “como se fosse cera” ao calor das mãos dele)
para acentuar a sensação do tato, ou da visão (a mão dela goteja a mirra “como um destilador”).
Seu umbigo é comparado a uma taça espumante, e o paladar é evocado
explicitamente neste verso: “Vem beber esse vinho
e comer esse pomo,”
Em “Súcubo”, a amada,
que está longe, é comparada a esse “demônio
feminino que, segundo velha crença popular, vem pela noite copular com um
homem, perturbando-lhe o sono e causando-lhe pesadelos"25. Quase todas as
noites ela o visita, invocada pelo poeta:
E
de leve, em redor do meu leito flutuas,
Ó
Demônio ideal, de uma beleza louca, (*)
De
umas palpitações radiantemente nuas!
Até,
até que enfim, em carícias felinas,
O
teu busto gentil ligeiramente inclinas,
E
te enrolas em mim, e me mordes a boca!.
---------------
(*)
Cf. a metáfora, e recorrência de “ideal”
A imagem implícita, no último
verso citado, é a da serpente, em que se disfarçou o diabo para tentar Eva no
Paraíso, conforme, mais uma vez, a Bíblia.
“Adultério de Juno” é o título de uma
série de três poemas, envolvendo personagens da mitologia clássica, que aí
aparecem muito humanos, e por isso verdadeiros.
No poema I, Juno é
caracterizada como uma mulher virtuosa em oposição a sua irmã Vênus, uma
devassa. Juno, todavia, era terrivelmente ciumenta de Júpiter, seu marido (o
mais poderoso dos deuses):
Quando
tinha ciúme, era uma fera,
Mais
furiosa que uma loba em cio. (1)
Todos desejavam Juno:
Por
toda parte palpitavam beijos,
Mais
lindos do que a flor do asfodelo, (2)
E
os desejos mais sôfregos, desejos
De
despir esse corpo e de mordê-lo...
---------------
(1)
Cf. a comparação
(2)
Cf. a comparação, e a sugestão obscena do nome da planta citada, coerente com
os dois últimos versos da estrofe. É a flor que cresce no Hades (terra dos
mortos),segundo o “Dictionary of
Classical Mythology”, de J.E. Zimmerman, op cit.
Outros personagens mitológicos
aí citados são: Vulcano (= deus romano do fogo e do trabalho em metal), náiades
(= ninfas dos rios e das fontes), hamadríades (= ninfas dos bosques, que
nasciam e morriam com as árvores que lhes eram destinadas, e onde se admitia
que elas morassem) e um sátiro (= semideus lúbrico, habitante das florestas,
que se pareciam com homens, mas tinham
chifres curtos e pés e pernas de bode) 26
O
Olimpo enfim era uma borracheira, (1)
Era
uma gargalhada, um grito insano;
Foi
só para enganá-lo a vida inteira,
Que
Vênus se casou com o deus Vulcano.
Via
o infiel correr, ébrio de vinho, (2)
Náiades,
hamadríades, e tudo
Quanto
encontrava sobre o seu caminho,
Como
se fosse um sátiro cornudo. (3)
Via-se
desejada como a fêmea,
Cujo
perfume era o da própria rosa,
Sua
única irmã, sua irmã gêmea,
E
entretanto teimava em ser virtuosa.
---------------
(1)
Cf. a metáfora. Borracheira= bebedeira (dic. Aurélio)
(2)
Correr= pôr a correr; afugentar (dic. Aurélio)
(3)
Cf. a comparação
O poema II diz que Juno vivia
sempre só. Tinha apenas a alegria de correr, com seu coche azul, pelos campos:
E
dentro do seu coche azul, clara e florida, (1)
Levada
por pavões, corria a toda brida.
Era
um vôo através de campos verdejantes, (2)
De
palmeiras gentis, serros de diamantes.
Cidades
ideais, como lírios na fralda (3)
De
uma montanha de pérolas e esmeralda,
Rios,
vales em flor, floresta colossal,
Lagos
polidos como espelhos de cristal, (4)
Nesse
doirado mês de outubro, o mês risonho;
E
ela passava assim como se fosse um sonho. (4)
---------------
(1)
Coche= “Carruagem antiga e suntuosa” (dic. Aurélio)
(2)
Cf. a metáfora
(3)
Cf. a comparação. Fralda= sopé (da montanha)
(4)
Cf. a comparação
Numa manhã, porém, ela quis
passear a pé, “como qualquer burguesa”.
Passou tão metida em seus pensamentos que calcava as flores sem as ver:
Vendo-a
passar por sobre as suas hastes em flor,
Inquietas
de prazer, e histéricas de amor,
Diziam
a sorrir lânguidas açucenas: (1)
‘Quem
passou por aqui foi uma sombra apenas!’ (2)
Ia
Juno, porém, de tal modo metida
No
fundo do seu eu, da sua própria vida,
Que
sem vê-las talvez, pálida e desdenhosa,
Calcava
sob os pés a violeta e a rosa...
---------------
(1)
Cf. a personificação
(2)
Cf. a metáfora
No poema III, Juno, enfim, se
desvia do bom caminho, entregando-se a
pastor muito bonito, que encontra (dormindo) em seu passeio. Ele é
identificado com Endimion, o pastor da mitologia grega amado por Selene (a
deusa lua).
As relações amorosas entre Juno
e o pastor são comentadas pelos faunos, sátiros, dríades (ninfas dos bosques) e
um pássaro, presentes na natureza:
Outro sátiro:
..................................
Toda
descoberta,
Sem
nenhum receio,
Cada
vez o aperta,
Mais
junto do seio...
Com
tal abundância,
Com
tal alvoroço,
Que
ela é quem mais ânsia
Tem
daquele moço.
.................................
Um pássaro:
-Despiu-se
toda. Está inteiramente nua...
Um sátiro:
-Nua,
de uma nudez mais nua do que a lua... (*)
---------------
(*)
Cf. a comparação, rima interna, assonância e aliteração presentes nesse verso
Outro jovem fauno:
.................................
E
ambos, que loucura,
Ambos,
que desordem,
Nessa
luta obscura,
Como
eles se mordem!
.....................................
No final, Júpiter cai “como um raio entre os dois” amantes (cf. a
comparação).
Adicionalmente, citam-se estes
outros personagens mitológicos: Hércules, Tântalo, Flora e Sileno. Hércules,
famoso pela sua força, realizou os Doze Trabalhos.Tântalo roubou ambrosia e
néctar dos deuses para dá-los aos homens. Como castigo, estava próximo da água,
e não podia bebê-la, da comida e não podia comê-la. Além disso, uma enorme
pedra estava sempre prestes a cair sobre a sua cabeça. Flora é a deusa das
flores, dos jardins e do amor. Sileno é o seguidor de Baco, representado como
um velho gordo e alegre, montado num burro, coroado de flores e sempre
embriagado. 27
Os faunos não são apenas
espectadores do relacionamento amoroso entre Juno e o belo pastor. Em seus
comentários, eles se mostram ressentidos, invejosos do pastor.
O poema I é composto por
quadras, com versos de dez sílabas. O poema II
contém versos de doze sílabas, rimados dois a dois. E o poema III inicia
com versos de cinco sílabas, em quadras, e depois prossegue com versos de doze
sílabas, quando os elementos da natureza, personificados, falam, incluindo
porém, intermitentemente, quadras com versos de cinco sílabas, que descrevem a
relação entre Juno e o pastor, num ritmo mais ligeiro, coerente com a
sofreguidão da transa.
*
As
mulheres a quem se referem os poemas podem ser “pálidas” ou “morenas”. Os
versos sempre referem-se à sua nudez:
Era uma
confusão. Pálidas e morenas,
Cada qual, cada qual, como Deus a formou,
Não foi uma, nem dez, porém foram centenas
As
mulheres por quem D.Juan desesperou... (“D.Juan”)
Mas a
mulher pode ser branca e loura como em “Gata”:
Quando eu tomo esse teu cabelo ondeado e louro,
E o cheiro, e palpo o teu corpo branco e felino,
Como te torces, pois, minha serpente de ouro! (*)
---------------
(*)
Cf a metáfora recorrente
(mulher=serpente=demônio)
Aqui, a
sensualidade dos versos se apoia na evocação do sentido do olfato, além de
outros.
Nesse
soneto, de caráter descritivo, a amada tem a “carícia”
“e a moleza de gata”:
O
teu andar sutil é doce como a pata
Desse
animal pisando um tapete sombrio...
É uma comparação tão sugestiva
quanto aquela de Juno pisando as flores em “Adultério de Juno” II
– “Quem passou por aqui foi uma sombra apenas!”.
Mas num poema em louvor à Virgem Maria, o andar desta produz estranho efeito:
Teu passo ressoa por sobre o veludo,
Quanto tu caminhas, Lira de marfim. (“Em seu louvor”)
Na
sequência de “Gata”, é dito que a amada tem “uma morbidez lânguida de sonata”, mais uma evocação do sentido
da audição, também referido no verso final: “Animal
de voz rouca e gesto silencioso!” (a sensualidade, nesse soneto,
apresenta-se, em suma, em termos visuais, táteis, olfativos e sonoros).
Nas
mulheres está sempre presente o Mal, simbolizado pela serpente e o verme:
Lírio ou rosa, não sei, nenhuma flor tocou,
Que uma serpente vil não tivesse manchado,
E um verme também não exclamasse: aqui ‘stou! (“D.Juan, mas porque foi...”)
Anteriormente,
os versos se referem à “alma de Ariel”
dessas flores (=mulheres) angelicais (Ariel é um anjo rebelde, no “Paraíso
Perdido” de Milton). D. Juan estremece, ao constatar a malícia delas,
Abrindo os corações, todos, de par em par,
Apenas ele quis transpor o limiar,
(cf. o eufemismo acima, que
também ocorre em “Um dos sonetos de D.Juan”, quando o poeta, “como um colibri”, quer “palpitar” sobre ela, afirmando: “E
que ânsia de poder fundir-vos num só beijo,”)
Uma boa amostra de como se
apresentam esses versos lírico-eróticos é o soneto antológico “Esse perfume”,
em que o poeta faz o elogio do perfume da amada (cf. recorrência da evocação do sentido do olfato):
Esse
perfume – sândalo e verbenas – (1)
De
tua pele de maçã madura,
Sorvi-o
quando, ó deusa das morenas!
Por
mim roçaste a cabeleira escura.
Mas
ó perfídia negra das hienas!
Sabes
que o teu perfume é uma loucura:
--
E o concedes; que é um tóxico: e envenenas
Com
uma tão rara e singular doçura!
Quando
o aspirei – as minhas mãos nas tuas –
Bateu-me
o coração como se fora
Fundir-se,
lírio das espáduas nuas! (2)
Foi-me
um gozo cruel, áspero e curto ...
Ó
requintada, ó sábia pecadora,
Mestra
no amor das sensações de um furto!
---------------
(1) Sândalo= tipo de árvore cuja madeira é aromática.
Verbena= tipo de planta com flores perfumadas
(2) Espádua= ombro (dic. Aurélio)
O perfume é da pele “de maçã madura” da “deusa das morenas”. O poeta o aspira como quem furta, quando
está com ela. Por isso ela é “Mestra no amor
das sensações de um furto!”, último verso
do soneto. Sua perfídia é “negra” e
é “das
hienas”, porque concede esse perfume, sabendo que ele é uma “loucura” e um “tóxico”,
duas metáforas. Outra metáfora é chamá-la de “lírio”. Como já disse, é recorrente nos poemas a
identificação da mulher com a flor. Nesse caso, lírio pode designar tanto a
planta quanto a sua flor, de cor branca
que, aqui, contrasta com a cor
“escura” da cabeleira da amada e com sua perfídia “negra”, produzindo um efeito
visual interessante.
Em “Incoerência”, o
poeta está com a amada “Em abraços, em beijos loucos e febris,” e lhe
ocorre que, em vez de estar ali, poderia estar na rua, sofrendo, à procura de
um remédio para um irmão que morre.
O poema pode ser lido como o
registro da culpa judaico-cristã associada ao sexo, ou como uma metáfora da
sensação de culpa pela arte alienada (a amada, como vimos, pode representar a
beleza, a arte, ou a pátria desta, sugestão que decorre da referência à “flor
de lis”, no v.2.).
O poeta poderia sobrepor a
ética à estética, poderia, em vez da arte, dedicar-se às causas sociais mais
urgentes:
Exposto
ao vento, à chuva, à neve, ao frio, ao lodo,
Pálido
de suor, carregado de tédio,
A
procurar em vão, nervoso e quase doudo,
Para
um irmão, que morre, um extremo remédio!
A destacar ainda, na quadra
anterior a essa, os versos
Que
em vez de estar aqui, abraçando-te nua,
Por
sobre este peplum de seda, /.../”
---------------
(*) O dicionário Aurélio não registra “peplum” e sim
“peplo”= “túnica sem mangas que os
antigos traziam presa ao ombro por fivela”
Note-se a ênfase atribuída à
nudez da amada por baixo do peplum, o que é explicado pelo estado mental do
amante tomado pelo erotismo. No soneto “Ovídio” -- poeta a quem EP chama
de Mestre, certamente por ter tratado antes de temas mitológicos e relacionados
ao amor sensual -- Roma antiga está viva no terceto final:
E
o orgulho de beijar, que nem o exílio doma,
O
corpo mais gentil do lupanar de Roma,
Júlia,
e basta, Nazão, filha do Imperador!...
Aliás, EP tem a habilidade --
conforme notou Péricles Eugênio da Silva Ramos -- de tratar de temas
relacionados à Grécia e Roma antigas, e sua mitologia, com muita vivacidade, “sem nenhum ranço clássico”. 28
Neste tópico, deve-se mencionar
também “Heliogábalo”, em que um prostíbulo romano “vê” (cf
personificação) entrar na cidade, como um deus, o novo imperador. O soneto
conclui assim:
/.../
O monstro excedeu as crápulas de Roma! (*)
Heliogábalo
é um homem e é uma mulher!
---------------
(*)
Crápula= devassidão, desregramento (dic. Aurélio)
Heliogábalo, segundo o “Petit
Larousse”, foi imperador de 218 a 222 e introduziu em Roma o culto do deus Baal
solar. Por isso, certamente, no soneto, é chamado de “filho do sol”.
Em “Súplica de um fauno”,
um fauno, após descrever “a mais pomposa das
lupercais” (= festas em honra do deus Pã), ocorrida no dia anterior --
em que diversas divindades mitológicas se divertiram -- lamenta seu amor
infeliz por Diana e deseja, por isso, estar cego, ou ser transformado em
estátua “Mais insensível do que o mármore de
Paros” (essa é a sua súplica, conforme o título).
O poema descreve, com muita
vivacidade, Vênus traindo Vulcano com Adônis.
Mirto, “ébria”, está enlaçada com um sátiro e Apolo corre atrás de
Leucotéia, ao som da flauta de Pã:
—Foi
neste bosque, olhai, que ontem a mais pomposa
Das
lupercais eu vi. Coroada de rosa,
Dos
loureiros em flor à sombra, que perfuma,
Vênus
o corpo ideal, mais claro que uma espuma, (1)
Cedeu
ao teu furor, ó Adônis, à tua (2)
Fome,
como se fosse uma bacante nua... (1)
................................................................
E
que algazarra vã daquela juventude,
Ouvindo
Pã soprar na sua flauta rude, (2)
.................................................................
E
que riso cruel, tonitroante e louco,
Quando
Vulcano aparecendo daí a pouco,
Entre
outros braços nus, que não de seu esposo,
Vênus
veio encontrar delirando de gozo...
---------------
(1)
Cf. a comparação
(2) Adônis= famoso pela sua beleza, era o favorito de Vênus;
Pã= “deus
grego dos rebanhos e pastores, das florestas e da vida selvagem, e da
fertilidade; protetor dos pastores e caçadores. Parte homem, parte bode, com
orelhas, chifres, cauda e pernas traseiras de um bode – brincalhão, lascivo,
imprevisível, sempre luxurioso. Inventou a flauta com sete juncos /.../” Nome romano: Fauno. 29
A figura do fauno é recorrente nos poemas.
Além do soneto “De um fauno”, comentado abaixo, consta em “Setembro” um
outro poema, com o mesmo título, ambos identificando o poeta com o fauno. Na
realidade, o fauno representa qualquer homem dominado pelo instinto sexual.
Converte-se assim em símbolo, como aliás muitos outros personagens mitológicos.
O soneto incluído em “Setembro”
está datado de 1895, mas não foi incluído em “Ilusão”. Por que motivo?Talvez
pelo seu conteúdo comprometedor...: o
poeta- fauno, ao lado de Ema, que acordou mais cedo, em seu “roupão de linho”,
inveja o noivo desta por quem ela espera, naquela manhã “cor de rosada
e fria” (como acontece frequentemente em Curitiba, em certas épocas do
ano). Na “Prosa” de EP consta uma crônica, datada de 8/5/1905, sobre o
relacionamento do poeta com Ema, que era loura e falava alemão...30 (certamente membro
de alguma família germânica de imigração mais recente para o Estado, pois ainda
fala a língua dos ancestrais).
Também nos “Esparsos”,
recolhidos em “Ilusão & outros poemas”, op cit, consta um curioso “Soneto”, que começa
por “Vejo-te sempre, Dona, ao sol das cinco,”,
datado “Num País de Bárbaros—93”, que não
foi incluído em “Ilusão”, decerto pelo mesmo motivo. Nesse soneto, o poeta vê
passar uma mulher (com o marido e as filhas) de quem tem recordações eróticas.
Ris
ao passar. A minha face cora ...
--
Estremeço. Recordo formas nuas ...
Lembro
arrancos histéricos... Senhora!...
O poeta o conclui lamentando
pelas filhas pequeninas dela.
Em “De um fauno”,
desejaria despir uma “Juno”, que passa por ele
Ah!
quem me dera, quando passa em meu caminho
Juno!
com seu andar de névoa que flutua,
Poder
despi-la dessa túnica de linho...
E
vê-la nua! Eu só compreendo estátua nua!
Quando ele lhe estende os
braços, ela foge dele. Seu desejo, porém, “como
um sátiro perfeito”,
Despe-a;
carrega-a, assim, despida, para o leito...
e a viola sobre o feno.
Ocorrem em “De um fauno”
-- como em muitos outros poemas -- referências à mitologia greco-latina (no
caso a Juno, Apolo e a um sátiro). Por outro lado, ele quer ver essa Juno nua
pois só compreende estátua assim. EP procura “nobilitar” o desejo sexual pelas
referências à arte e à mitologia clássica. Isso para nós hoje parece antiquado,
uma vez que a poesia não precisa mais, felizmente, usar de tais artifícios para
a expressão dos sentimentos humanos...
A destacar no poema, ainda,
estas imagens: o andar dela é “de névoa que
flutua”. No soneto, ela, além de Juno e
de estátua, é chamada de corça (“essa corça
nua é branca, e é como a lua”) que o seu
desejo – um gamo – persegue. O poeta, por sua vez, gostaria de ser Apolo (o
deus da beleza masculina) para embriagar essa Juno “do seu vinho”.
*
Na série de D.Juan (oito
sonetos), da seção “Sátiros e Dríades”, EP explora o mito desse personagem
lendário espanhol que serviu de tema a Tirso de Molina, Molière, Baudelaire,
Mozart, Byron e G.B. Shaw. 31
D.Juan constata a presença do
mal em todas as mulheres; aliás, em “Donzelas” (que no verso inicial – “Donzelas que passais com esse gesto ameno”
--acusa influência de um famoso soneto de Antônio Nobre, incluído em seu livro
“Só”, de 1892), o poeta já afirmara que não queria aquelas sem “veneno”,
consideradas como “lírios”, com a palidez “duma cecém” (= flor do lírio). O
lírio, tradicionalmente, é o símbolo da pureza, daquela “candidez ideal”
mencionada no v. 12 do soneto. O poeta se considera vítima de sua época
decadente, por isso só quer aquelas com “veneno”, aquelas em que D.Juan
constata a presença do Mal... (o vocábulo “veneno” também aparece em “D.Juan,
mas porque foi...”). Ressalte-se ainda a musicalidade de “Donzelas”,
assegurada pela repetição de palavras, e o ritmo dos versos. A propósito,
Nestor Vítor toma como exemplo um verso de “Donzelas” para salientar o
uso freqüente que EP faz do alexandrino sem hemistíquio, novidade na época. 32 Assim, em vez de
adotar a cesura na sexta sílaba, ele divide o alexandrino em três partes (com a
quarta, oitava e décima-segunda sílabas acentuadas), como no verso “Lírios do campo
com figura de mulher,”
D. Juan anseia por diversas
mulheres simultaneamente. Tem “ânsia de beijar a todas de uma vez”. Seu coração, comparado
a uma lira, suspira “Ora em dó, ora em fá, ora em ré, ora em mi...” (“Um dos
sonetos de D.Juan”). A diversidade de tons musicais aqui reflete a
diversidade de mulheres por quem o volúvel D.Juan se interessa. Ele gostaria de
“Palpitar sobre vós, bem como um colibri?”
Esse “palpitar sobre vós” e o “fundir-vos num só beijo” do verso seguinte, com
as sugestões decorrentes da semelhança fonética entre este último verbo e
outro, de caráter obsceno (como ocorre na referência a “asfodelo” em “Adultério
de Juno” I) são amostras de como EP trata, às vezes, de temas eróticos,
apoiando-se frequentemente em sugestões. O terceto final refere-se ao corpo das
amadas, em “flashes” de suas partes, com estas imagens:
Carnes,
alvor de luz da manhã, que irradia,
Olhos,
inundações furiosas de embriaguez,
Tranças
revoltas como uma noite de orgia!
(“Um dos sonetos de D.Juan”)
(“alvor” tanto significa ”alvura” quanto
“brilho”, “esplendor”, permitindo aqui um duplo sentido, que acentua a carga
expressiva da metáfora associada às “carnes”, supostamente nuas, das amadas).
D. Juan está condenado a querer
uma mulher luxuriosa, que “todo o mundo beija”.
Essa “luxuriosa flor” também é chamada de
“fogo de Babel”, nome hebraico da
Babilônia, cidade associada ao pecado na Bíblia, mais uma referência a esse
livro, dentre tantas outras. 33 Ele está condenado a
querer essa mulher, e a ter por destino
A
infâmia de beber no fundo de uma taça
Onde
eu sei que bebeu um beberrão qualquer!...
(“Outro soneto de D.Juan”)
Compare-se esses versos
com “Borboleta”, em que há
tambérm menção às prostitutas. Num dia de sol, a borboleta persegue o poeta,
roça nele, “como uma tentação”, sobe e
desce, de tal modo que lhe parece
Essas
que andam de lá pra cá, coquetemente,
À
noite, nos jardins, a seduzir a gente...
Em outro soneto, D. Juan anseia
por uma mulher chamada Sodoma (cf. as conotações desse nome, relacionadas ao
Mal e ao pecado, pois é o mesmo nome da cidade bíblica destruída por ser
pecaminosa, junto com Gomorra-- Gen. XVIII-19). Sodoma, nesse poema, é chamada
sucessivamente de “flor maravilhosa”, “pálida rosa” (a flor sempre associada à
mulher), “pérola preciosa”, “carne voluptuosa” e “rainha”.
D.Juan também anseia por alguém
cujos olhos “são uma voracidade”, assim
como são os seus. Os olhos dos amantes, nos dois tercetos, são personificados.
“Correm a se agarrar, trêmulos de paixão...”
Os olhos pelejam, querem se destruir, mas em vão... É lamentável que o
resultado obtido nesses tercetos não seja satisfatório—mas a primeira estrofe
do soneto apresenta agradável sonoridade, devida, em boa medida, ao
polissíndeto:
Quando
te vejo assim passar como um lampejo,
Não
imaginas tu, causa de meu prazer,
O
anseio, e o fulgor, e o horror, com que te vejo,
E
o orgulho, e a ambição, e a fome de te ver.
(“Ainda outro...”)
Saliente-se o paradoxo aí
existente, pois a amada causa “prazer” e ao mesmo tempo “horror”, certamente
devido ao sofrimento antecipado pelos tormentos da relação amorosa:
E
é um punhal este amor, e é um dardo este desejo,(*)
E
nada satisfaz a ânsia de te querer
---------------
(*)
Cf.as metáforas
No soneto seguinte, D.Juan
elogia obsessivamente uma mulher mas, no final, aguarda a hora de ansiar por
outra, ao pé da primeira (presença de “humor coloquial” nos versos, segundo J.G.Merquior,
já assinalada, cf. item 3.3.2.b). Nos dois quartetos de “E finalmente o
último...”, as múltiplas formas de D.Juan referir-se à amada sugerem a
multiplicidade das próprias mulheres que lhe despertam o interesse:
Meu
encanto, meu bem, rosa de Alexandria,
Minha
tulipa, meu ideal, minha ilusão,
Minha
loucura, meu amor, minha agonia,
Meu
céu aberto, que parece uma prisão:
Minha
esperança e meu pesar de cada dia,
Ó
minha luz, tu és o meu desejo vão,
E
a espada, e o broquel, e a pluma, e essa alegria,(*)
E
esse delírio, e a flor da desesperação!”
--------------------------
(*)
Broquel= “Escudo antigo, redondo e
pequeno” (dic. Aurélio)
A repetição dos possessivos
“meu” (sete vezes) e “minha” (seis vezes) é importante para definir o ritmo dos
versos, quebrado no último verso da primeira estrofe. Na estrofe seguinte, tal
função é exercida não só pelo segundo verso, mas principalmente pelo
polissíndeto, que lhes imprime uma nova sonoridade.
Além da identificação da amada
com a flor (“rosa”, “tulipa”, “flor
da desesperação”), ocorre aqui a oposição dos termos (ela é o “pesar de cada dia” e é “essa alegria”, ela é o “céu
aberto” e uma “prisão”, é a “esperança” e a “flor
da desesperação”). Ressalte-se ainda que ele a chama pelos nomes dos
pertences de um cavaleiro (“espada”, “broquel”, “pluma”), além de chamá-la de
seu “ideal” e sua “ilusão”. Assim, o cavaleiro-artista-D.Juan vê, na mulher,
algo que ele equipara a um pertence seu, que lembra a figura do cavaleiro que
se bate pela Beleza. Esta é seu “ideal”, sua “ilusão”, sua “agonia”, sua “luz”,
sua “loucura”, seu “pesar”, esse “delírio”, sua “esperança” e a “flor da
desesperação”. D.Juan, conforme já foi mencionado, é como o artista: ele está
sempre em busca da Beleza, mas não consegue possuí-la plenamente.
Nos tercetos, após todos os
elogios à amada feitos nos quartetos, ele
invoca o moinho de vento (símbolo da sua volubilidade?) e se indaga
quando será a hora em que poderá, já fatigado de tudo,
Desses
teus olhos vãos, mais caros que o veludo, (*)
Ansiar
ao pé de ti, mas por outra mulher?...
---------------
(*)
Vãos= enganadores, ilusórios
Note-se a comparação insólita,
dos olhos da amada com o veludo: os olhos dela são mais “caros” – queridos, ou
de alto preço – do que o “veludo”, o qual também evoca uma cor para os olhos
dela. Qual? aquela que o leitor quiser lhe atribuir, de acordo com a sua
fantasia...
Finalmente, cabe mencionar
ainda, neste tópico sobre D. Juan, a menção
a ele em “Punição do herege”,
quando o poeta descreve o abade luxurioso do poema:
Tinha
de D.Juan a maneira cortês,
O
olhar, o gesto, a voz, o manto e a languidez.
.........................................................................
Tinha
essas frases vãs, que sempre uma mulher
Acolhe
com desdém, mas ouve com prazer.
*
O amor que causa sofrimento
pode ser representado pelos poemas I a III de “Um violão que chora...”.
O poema I dá conselhos sobre o amor. Os versos usam uma linguagem portuguesa
antiga, inclusive seu léxico (cf. “oelhos”, em vez de “olhos”). A flor/a rosa
são identificados com o amor/a mulher:
Oelhos por seu gosto
Não os ponha em flor
Que lhe causam dor:
Sofre
de os não por,
E
de os haver posto...
......................................
Amores
são rosas
Próprias
da Ilusão,
Rosas
em botão,
Que
é quando elas são
Frescas
e cheirosas.
.......................................
Damas,
meus senhores,
São
todas iguais...
Já
porque as olhais,
Nem
vos olham mais,
Nem
vos têm amores...
No poema II, de “Um violão
que chora...”, também escrito em português antigo, o poeta espera pela
amada que não vem. Na primeira estrofe, há uma comparação interessante:
Dessa
tão ferrenha mágoa
De
querer vos esperar,
Meus
olhos se encheram d’água
Salgada
como a do mar.
............................................
Quando ela vier, talvez ele não
se encontre mais lá:
Mas
se não me encontrardes,
O
que é natural, enfim,
Interrogai
estas tardes,
Que
hão de vos falar de mim.
Sobretudo
este arvoredo,
Que
há de vos dizer: “Eu vi,
Ele
passeava, em segredo,
Todas
as tardes aqui.
Passeava
tristonho e mudo,
A
pensar em não sei que,
Tão
distraído, que tudo
Via
como quem não vê...
Andava,
não sei, tão cheio
De
torturas ideais...
Um
dia o pobre não veio,
E
afinal não veio mais...”
Saliente-se a simplicidade,
espontaneidade desses versos, que, como ocorre em muitos outros poemas, nada
tem do “nefelibatismo simbolista”... Destaque-se ainda a personificação de
“tardes” e do “arvoredo”. O poeta fala como íntimo da natureza, ela é parte de
sua vida, e ele é (ou será) parte dela
também.
No poema III da mesma série, o
poeta lamenta o sofrimento causado pela amada, também utilizando um português
desusado. Chama a atenção aqui o uso das sinédoques (emprego da parte pelo
todo) em “mão” e depois, mais audaciosamente, em “unha”:
Tantas
vezes hei sofrido
Que
desta vez conheci
Que
tudo ficou perdido
Nas
mãos em que me feri.
E
é justo que então vos diga
Que
a mão que me faz sofrer,
Bem
que me devia ser
Amiga,
e não inimiga.
......................................
E
como um cego supunha (*)
Que
fôsseis só formosura,
E
não afiada unha,
Que
dilacera e tortura:
.......................................
----------------------
(*)
Note-se a comparação, recorrente, do poeta com um cego
No final, ocorre mais uma vez a
oposição entre “estrela” (metáfora do amor, da amada, do sonho) e “lama”
(metáfora da vida sem amor, de dor, de desesperança):
Também
daqui por diante,
Isso
a mim próprio jurei,
Por
mais que o prazer me encante,
Vista
jamais erguerei,
Nem
para uma outra estrela,
Nem
para uma outra dama;
Pois
para que é que hei de erguê-la,
Se
tudo que vejo é lama?
O sofrimento causado pelo amor
é certamente a razão para a atitude rancorosa do poeta em “Para um coração”,
de “Setembro”. Nas quadras desse poema, em vez de chorar junto com a mulher que
sofre, ele a chama de Lúcifer, assim se
expressando:
Mas,
choras, creio, choras? Onde
Se
viu chorar um Lucifer? (*)
Pobre
diabo, vamos, esconde
Essas
fraquezas de mulher...
---------------
(*)
Cf. a metáfora
Ainda
dentro deste tópico, que relaciona o amor ao sofrimento, menção deve ser feita
à imagem impressiva, contida nos versos abaixo, de “Palavras a um
recém-nascido”, de “Setembro”. O amor aí é chamado de “arma branca”:
Venha para o amor, pois o amor é como
Um raro, um saboroso, um esquisito pomo, (1)
Que, pálido e a tremer de sede e fome, a gente,
Como um lobo voraz, morde sofregamente... (1)
Venha para sentir com que febre se arranca
Lá do fundo do peito o
amor, que é uma arma
branca, (2)
Para embebê-la, após, soluçando de anseio,
Soluçando de dor, dentro de outro seio...
---------------
(1) Cf. a comparação
(2) Cf. a metáfora
Também podem ser incluídos
neste tópico “Solidão” VI e “Espectro”.
Em “Solidão” VI, o poeta se encontra só, pois
/.../
naquela prisão, onde eu estive,
E
onde quisera estar, já não estais /.../,
entendendo-se aqui que a imagem de “prisão” refere-se a um
relacionamento amoroso, então desfeito. Para ele,
Que
o destino cruel bate e repele,
Todo
desejo é inteiramente vão?
Resta-lhe o Silêncio e a
Solidão, identificados com Apolo e Vênus, que pela sua associação à arte e ao
amor, indicariam saídas para a frustração do amante. A amada, no caso, pode ser
também considerada como a personificação da Beleza, que em “Desde que
comecei...”, o poeta ama, esperando ser correspondido. Apolo e Vênus formam
um casal, pois um é personagem masculino e outro, feminino, o que sugere que
sua união pode dar frutos, ou seja resultar na produção, que é o objetivo do
artista. Apolo é o deus da música, da poesia, da beleza masculina, enquanto
Vênus é a deusa do amor e da beleza. Saliente-se ainda, com relação a esse
poema, o polissíndeto usado para caracterizar a Solidão personificada:
E
tem a graça, e o gesto, e o beijo, e o colo
De
Vênus Afrodita – a Solidão!
Em “Espectro” o poeta se
recolhe ao seu quarto numa noite chuvosa e fria, em que o vento “ruge” de dor e a chuva bate “desesperada” nos “vitrais”
(além do animismo relativo ao vento e à personificação da chuva, repare-se que
“vitrais” sugere construção nobre, talvez
um castelo medieval).
O protagonista é visitado por
um fantasma, que, após fitá-lo “sem dizer
palavra”, sai. O poeta sofre, quer iludir
a sua “dor que chora”. Sofre porque está
só, e há uma lembrança dolorosa sugerindo a perda de alguém... O fantasma
poderia ser a personificação da mágoa, de causa indefinida, que visita o poeta
em seu recolhimento...
O soneto é muito influenciado
pela ambientação de “O corvo”, de Edgar Poe (na realidade, é uma homenagem a
ele): lá fora, a natureza também é hostil, dentro, o poeta também está só e
sofre. Da mesma forma, folheia um volume, que não consegue ler. Até as escolha
de rimas, em “ora”, nos quartetos, se assemelha
ao “ore” do original inglês (“never more”, “Lenore” etc). No final,
todavia, entra um fantasma, em vez do corvo. Desse fantasma, nada se diz,
apenas que olha de frente o poeta (que está sofrendo, cf. v.5) “Melancolicamente e dolorosamente”. Também em “Passarinho
verde”, de “Setembro”, sente-se alguma influência de “O corvo”.
Deve-se salientar que EP, como
ocorre na tradição literária ocidental, não se importa de retomar um tema já
tratado por outros autores. Além destes poemas, lembremo-nos, a propósito,
daqueles que exploram os mesmos temas de Baudelaire (embarque para Citera, D.
Juan, o vinho), de Verlaine (sonetos à Virgem, “Christe, audi nos”, “Entre
essa irradiação”) e dos “Versículos de Sulamita”, em que ele retoma
o “Cântico dos Cânticos”, reproduzindo a passagem bíblica à sua maneira. Isso
sem falar nas inúmeras lendas da mitologia greco-latina, que EP reelabora habil
e vividamente.
*
O amor que mata pode ser
representado por “Para ela”, por “Uma carta” e por “Canção”.
Em “Para
ela”, o poeta atribui a uma mulher a sua infelicidade, e não à sua "imaginação” ou à “mania do verso”, que também são causas de infelicidade.
Nesse
soneto, o poeta se vê como um “funâmbulo” (= equilibrista que anda no arame)
caído no chão, no meio do sangue:
Quem um dia
me vir, caído pelo chão,
Ferido
pela dor, que é o meu punhal, Iago,
No meio do sangue, assim, no meio dum lago,
Como um funâmbulo torcido, mas em vão...
Saliente-se
a forte presença da vogal i nesses versos. No soneto “Vogais”, de
Rimbaud, o i está associado ao vermelho, aqui naturalmente relacionado
ao sangue do funâmbulo torcido no chão...
A dor do poeta é comparada a um
punhal. Ele afirma isso, dirigindo-se a Iago, o vilão da peça “Otelo”, de
Shakespeare, causador de mortes, dissimuladamente (de novo, referência à
falsidade, à hipocrisia dos bárbaros).
Novamente
o poeta se vê morto:
Ao ver a minha
face, em terra, friamente,
algo que é recorrente nos poemas, o que pode ser atribuído
ao seu desprezo pela matéria (o corpo) e supervalorização do espírito. Como já
assinalei antes, quando ele se vê morto, ele é só espírito, está liberto da
matéria, e vive, segundo a sua
concepção, na condição verdadeira, e não na ilusória (a condição atual).
Paradoxalmente, o poeta valoriza essa mesma matéria ao explorar o tema do amor
sensual...
Nas quadras de “Uma carta”, um
poema narrativo, o poeta, moribundo, escreve para a amada, a quem deixou,
quando partiu para a guerra; depois de ler notícia sobre ela, em jornal, ele
agiu de modo temerário e foi ferido mortalmente. Na carta, ele a faz recordar
do início de seu relacionamento:
Tu te recordas, pois, dessa tarde? Eu me lembro
De tudo. Foi ao pé de uma giesta em flor... (*)
Eu te beijei as mãos, o cabelo... Dezembro
Ardia.
Enquanto nós mudávamos de cor...
---------------
(*)
E´ recorrente, nos poemas, a menção a “giesta” (=“Planta ornamental arbustiva
/.../ de folhas pouco numerosas e flores amarelas, de cheiro agradável”- dic.
Aurélio)
A referência a dezembro, que
arde, situa geograficamente o poema no hemisfério Sul. Em outros poemas, quando
EP se refere ao “chacal”, ou a outro animal, ou planta, que não pertence à
nossa fauna ou flora, a ótica é a do hemisfério Norte – mais especificamente, a
da Europa, integrando-se assim à tradição literária desse continente, e
revelando influência de seus poetas preferidos, franceses e portugueses.
Lembremo-nos, a propósito, que toda a obra de EP é anterior a 1922, o ano-marco
da Semana de Arte Moderna, quando finalmente as coisas da nossa realidade
passaram a ser mais valorizadas, adquirindo o “status” literário...
“Uma carta” conclui com
versos que poderiam ser aplicados ao cavaleiro-artista, lutando pela “dama de olhos verdes” (a Beleza), em confronto
com os bárbaros:
Vibraram-me no peito uma lança, caí
Sob
os alfanges nus desses cossacos brutos..
Mas
que importa afinal, se vou morrer por ti!
”Canção” é uma balada
medieval, formada por redondilhas (quadras com versos de sete sílabas) não
ortodoxas quanto ao esquema de rimas, de forte sabor lusitano. Trata do retorno
do esposo (como um cavaleiro sinistro) que mata Guiomar, supostamente, por
infidelidade, e depois retorna para as “guerras
de Além-mar”. Há um contraste, na primeira estrofe, entre o negro
cavaleiro e a cor da lua, ou do luar; na última estrofe, o luar tem “Cor de sangue”. O poema inclui diálogos (na
realidade, é pelos diálogos que o leitor conhece a história). Inclui também uma
ambiguidade intencional: o esposo e D. Rodrigo são a mesma pessoa, ou não?
Notas
ao capítulo 3.5
1
BAUDELAIRE-
“Pages choisis”. Classiques Larousse- 17e édition. Paris. Larousse, p. 36
2
LEMINSKI,
Paulo—“Cruz e Souza”. Col. Encanto Radical. São Paulo, Brasiliense, 1983, p. 14
3
Apud HAUSER,
Arnold- “História Social da Literatura e da Arte”, tomo II, São Paulo, Ed. Mestre Jou, 1972,
p. 960
4
MURICY,
Andrade—“Nota biográfica” in “Poesias Completas de Emiliano Perneta”, v.I, Rio
de Janeiro, Ed. Zélio Valverde, 1945, p.VIII
5
PILOTTO,
Erasmo—“Emiliano”. Curitiba, Gerpa, 1945, pp.156-157
6
SILVEIRA, Tasso-
“Emiliano Perneta, poeta de evasão” in revista “Letras”, Curitiba, Universidade
Federal do Paraná (15):3-7,1966
7
“Obras Completas
de Emiliano Perneta”-1º v.- “Prosa”, Curitiba, Gerpa, 1945, p.23
8
BOSI,
Alfredo—“História Concisa da Literatura Brasileira”- 3a. ed., São
Paulo, Cultrix, 1987, p.318
9
“Obras Completas
de Emiliano Perneta”- 1º v.- “Prosa”,
op. cit., pp. 84-86; cf. também a nota na p.77
10 VÍTOR, Nestor- Obra Crítica- v.I, Ministério da
Educação e Cultura- Fundação Casa de Rui Barbosa, 1969- p. 439
11
ZIMMERMAN, J.E.- “Dictionary of Classical Mythology”.
New York, Bantam Books, 1985, p. 94
12
ZIMMERMAN, J.E.- op.cit., p.80
13 MOISÉS, Massaud—“A Literatura Brasileira”- v. IV- O
Simbolismo (1893-1902)- 2a. ed., São Paulo, Cultrix, 1967, p. 142
14 “A Bíblia” – v.I, São Paulo, Abril Cultural, 1982, p.
15
15
“Seventeenth-Century Poetry”. England, Penguin Books,
1996- p. 17
16
ZIMMERMAN, J.E.- op. cit., p.200 e p.84
17 MURICY, Andrade- “Emiliano Perneta”, Rio, 1919, p.42
18 MERQUIOR, José Guilherme- “De Anchieta a Euclides:
Breve História da Literatura Brasileira”-I, 3a. ed.- Rio de Janeiro,
Topbooks, 1996- p. 190
19 VÍTOR, Nestor- Obra Crítica, v.I, op.cit., p. 432
20
BAUDELAIRE- “Pages choisis”. Classiques Larousse- op.
cit., p. 51
21 Essa observação me faz lembrar o belo acróstico
que meu pai, Herbert, compôs, a pedido de uma parente, quando faleceu sua prima
Olga Soares Gomes, para ser gravado em uma pequena placa no túmulo dela, no
Cemitério Municipal São Francisco de Paula, e que ali ainda está: “O inverno não
alcançaste./ Livre estás em pleno
outono./ Guarda, agora que
acordaste,/ A lembrança de teu sono”. A propósito, no túmulo de Emiliano Perneta, no
mesmo Cemitério, consta também uma quadra, dirigida a sua mãe: “Aqui, debaixo desta fria
lousa,/ Aqui, ó minha mãe,
junto do teu,/ O meu ferido coração repousa,/ Mudo e gelado como quem morreu.”
22
“Emiliano Perneta”. Col.Nossos Clássicos nº 43, 2a. ed., Rio de
Janeiro, Agir, 1966, p. 45- nota
23
GUIMARÃES, Denise Azevedo – “A ânsia do
Absoluto na poesia de Emiliano Perneta” in Paraná-Secretaria de Estado da
Cultura e do Esporte- “Textura” nº 2, jul-dez, 1981
24
EP trabalhou com Júlio Ribeiro na redação da “Gazeta do Povo” de São Paulo. A
crônica sobre ele foi publicada na “Folha Popular” do Rio em 1890, da qual EP
foi secretário e principal redator (cf. “Obras Completas de Emiliano Perneta”-
1º v., “Prosa”, op. cit., pp. 55-56, inclusive nota na p. 56)
25
Novo Dicionário Aurélio- 1ª. ed, 15ª impressão-. Rio de Janeiro, Nova
Fronteira, s/d
26
Cf dicionários Aurélio e de Zimmerman,
J.E.-op. cit.
27 ZIMMERMAN, J.E.- op. cit.
28
RAMOS, Péricles Eugênio da Silva- “Poesia simbolista. Antologia”. São Paulo,
Ed. Melhoramentos, 1965, p. 115
29 ZIMMERMAN, J.E.- op. cit.
30
“Obras Completas de Emiliano Perneta”-1º v.-“Prosa”, op. cit., pp.81-84
31 Hutchinson Encyclopedia.
Great Britain, Helicon, 1995
32
VÍTOR, Nestor- Obra Crítica- v.I, op.cit., p.432
33 “A Concise and Practical
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1975
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