4.- SÍNTESE DAS CARACTERÍSTICAS DA POESIA DE EMILIANO PERNETA E SUA
INTERPRETAÇÃO
Uma vez procedida a análise, é importante fazer a síntese. Neste
capítulo, procuro apresentar, sucintamente, as características gerais da poesia
de EP, com base no exame dos poemas que integram a sua obra, realizado nos
capítulos anteriores. Procuro também oferecer uma explicação plausível para
tais características.
A poesia de EP revela, em primeiro lugar, a concepção filosófica
idealista de seu autor, que admite o primado do espírito sobre a matéria. Ele
supervaloriza o espírito e menospreza a matéria. Tal concepção pode ser
ilustrada pela oposição, frequente em seus versos, entre as estrelas/ os
astros/ o sol etc de um lado, e a lama/ o lodo/ o charco etc de outro. O poeta
anseia por tornar-se só espírito, anseia pelo absoluto. Só assim encontrará a
plena realização.
Isso nos leva a uma questão interessante: podemos considerar “bom” um
poeta, e ao mesmo tempo não concordar com as suas ideias? É possível um
materialista considerar “bom” um poeta idealista? Acredito que a resposta seja
afirmativa, haja vista o caso de Dante, consensualmente considerado um grande
poeta, tanto pelos que compartilham de suas crenças, como pelos que não
compartilham.
Um poeta então deveria ser avaliado não tanto pelo que diz, mas como
o diz, i.e. pela sua linguagem... Todavia, embora seja verdadeira a tese de que
só as ideias não fazem um bom poema (cf. Mallarmé: a poesia “se faz com palavras e não com idéias”) 1,
acredito que o caráter humanista das
idéias é um pré-requisito essencial. No caso de Dante, ainda que o leitor não
seja religioso, ou católico, deveria identificar-se pelo menos com o conteúdo
humanista da doutrina adotada pelo poeta florentino. Pois um poeta que fizesse,
por exemplo, a apologia da guerra ou do racismo só poderia causar repugnância
no leitor eticamente bem formado, bloqueando a sua sensibilidade para desfrutar
as eventuais qualidades poéticas que seus versos pudessem conter, relativas à
linguagem... Em suma, as ideias contidas no poema deveriam ser sempre
humanistas, quer dizer, a favor da elevação da condição humana e não do seu
rebaixamento... Essa será então uma condição necessária, mas não suficiente,
para a boa poesia... Por outro lado, o conteúdo de ideias não pode ser
simplesmente descartado, como ocorre com certa poesia hoje praticada entre nós,
que se esteriliza, ao limitar-se ao trocadilho, ao jogo de palavras e fonemas,
sem dar importância às ideias, aos temas fundamentais (eternos) da condição
humana, do sentido da vida, do amor, do compromisso social, da passagem do tempo,
da morte...
Voltando à poesia de EP, o seu caráter idealista, assim, não deve ser
motivo para que um leitor materialista a descarte “in limine”, pois ela
satisfaz ao requisito do conteúdo humanista.
O que explicaria a adoção dessa concepção idealista, dessa
supervalorização do espírito, dessa “ânsia do absoluto”, por parte de EP?
Embora tenha vivido numa época em que o materialismo filosófico desfrutava de
muito prestígio no meio intelectual, EP fez a opção espiritualista, juntamente
com a adoção das idéias estéticas simbolistas, contrapondo-se ao parnasianismo
dominante. A supervalorização do espírito, característica de EP, se explica,
provavelmente, não só pela sua formação judaico-cristã -- com a crença na
separação do corpo da alma, e superioridade desta, crença em sua vida futura,
na associação do corpo (do sexo) ao pecado etc – mas também pela sua origem
social. As famílias burguesas buscavam então, como buscam hoje, enobrecer-se, e
conquistar maior status social, mandando estudar os filhos. Resulta daí
a valorização da atividade intelectual, motivada, contudo, mais pelo
convencionalismo social e menos pela valorização em si das coisas do espírito.
Não lhes é suficiente ganhar dinheiro, é preciso que os filhos sejam
“doutores”. Assim, EP -- filho de um
português de posses, cristão-novo e comerciante -- foi enviado a São Paulo para estudar Direito na
tradicional faculdade do Largo de São Francisco, tendo concluído o curso em
1889 (foi, aliás, o orador da turma). O número de estudantes do Paraná (que não
tinha então instituição de ensino superior) na Corte ou em outras províncias do
Império era tão diminuto que sua chegada aqui (ou partida) era notícia na
imprensa da época. Por exemplo, o jornal “Dezenove de Dezembro”, de Curitiba,
publicou várias notas desse tipo, referindo-se ao jovem Emiliano
Perneta...
A outra face da “ânsia do absoluto”, revelada por EP, é a inquietude
existencial, expressa pelo “tédio” ao qual se refere muitas vezes. Do
ponto-de-vista metafísico, tal inquietude seria decorrente da frustração em
alcançar plenamente os objetivos do espírito, devido ao “cárcere” das almas (a
matéria), da consciência da precariedade da condição humana, do reconhecimento
da nossa insignificância diante do Cosmos... Todavia, sob a ótica histórica, há
razões objetivas que tornam a realidade hostil às pessoas sensíveis, aos
artistas e idealistas... (não será por acaso que tantos deles se mostrem
desajustados no meio social em que vivem, morrendo prematuramente por abusarem
dos “paraísos artificiais” que lhes fornece uma realidade alternativa mais
aceitável..). O mundo para EP está dominado pelos “bárbaros”, os quais
perseguem objetivos mesquinhos, prosaicos (da prosa, não da poesia...), ligados
à busca do dinheiro e do poder, sem compreender os sonhadores, que buscam outro
tipo de retribuição. Por isso, o artista para ele deve isolar-se da “multidão”
(i.e., dos bárbaros), refugiando-se na “torre de marfim”, para se defender
desse mundo hostil, que lhe causa sofrimento, onde reina a falsidade, e outras
características negativas, criticadas
por EP, requisitos indispensáveis para o êxito social... Assim, o isolamento do
artista é semelhante ao do eremita, que também está inteiramente voltado para o
Ideal, o Sonho...
O que poderia explicar tal descontentamento permanente em EP? Do ponto
de vista psicológico, seria a insatisfação por não produzir aquilo que, aos
seus olhos, se comparasse às obras-primas dos grandes poetas -- franceses e
portugueses -- que admirava, dividido que estava entre as suas obrigações profissionais (como
jornalista, advogado, professor e por fim auditor da Justiça Militar) e a
literatura. Aliás, há uma passagem na sua “Prosa” em que ele se refere ao
período estéril em que morou em Minas Gerais, atuando como promotor público e
juiz de direito: pretendia lá escrever obras-primas, mas não conseguiu “nem primas nem sobrinhas...” A maior parte dos poemas que integram “Ilusão” foi composta entre 1897
e 1911, após o seu retorno ao Paraná, que ocorreu em 1896. A obra de EP é
pequena, em quantidade de poemas, revelando preocupação com a qualidade. Ele
era certamente, como todo verdadeiro artista, um eterno descontente com o que
produzia, pois o seu ideal de arte era muito elevado.
Do ponto de vista social, esse descontentamento poderia provir do fato
de que ele vivia num meio provinciano, acanhado, dominado pelas convenções,
inclusive estéticas, cujas perspectivas estreitas pouco estimulava a realização
de todas as suas potencialidades (Curitiba, em 1911 – ano do lançamento de
“Ilusão” – tinha aproximadamente 60 mil habitantes) 2. A sociedade paranaense em que vivia
era dominada pelos barões da erva-mate e proprietários de terras e de gado.
Assim como O. M. Carpeaux afirmou que Baudelaire representava “a má consciência
da burguesia”,3 deveremos
também nós afirmarmos que EP representava a má consciência dos nossos
ervateiros e latifundiários? Acho que não. Creio que é uma visão simplista
associar tal descontentamento a uma classe social apenas. Acredito que essa
postura é própria das pessoas sensíveis, que sentem mais a precariedade e
efemeridade da condição humana, e elas existem em todas as classes
sociais...
Naturalmente não há referência explícita a essas classes nos poemas,
pela concepção estética que EP adotou (a mesma que explica porque ele não
reproduz a paisagem local em seus poemas). Todavia, os versos mencionam os
“grandes”: um dia “Hão de os
grandes rolar dos palácios infetos!”. EP mal esconde aqui a sua satisfação por eles
terem, no fundo, o mesmo destino dos poetas, que estão condenados nessa
sociedade hostil ... (ambos estão “Vencidos”,
título do poema); por outro lado, os “bárbaros” são os seus inimigos
declarados, pois “Urdem contra a
Beleza as coisas mais abjetas...” (“Dama”). Podem ser, ou não, os membros da
burguesia: ele assim rotula as pessoas, de quaisquer classes sociais,
insensíveis às coisas do espírito. EP critica também, reiteradamente, o
egoísmo, o orgulho e a hipocrisia que ele constata nessa sociedade dominada
pelas convenções. Assim, verifica-se, nos poemas, a condenação explícita de
certos indivíduos em nome de valores estéticos ou éticos...
EP participou dos movimentos pela Abolição e República. Mas ele não
compreendeu a Guerra do Contestado (diferentemente de Euclides, com relação a
Canudos). Não se encontra, em sua “Prosa”, nenhuma referência em favor dos
caboclos oprimidos, despojados de suas terras pelas arbitrárias decisões
palacianas e dos “coronéis” do interior. Só ocorrem referências em favor dos
militares aliados dos poderosos (cf., em
sua “Prosa”, o discurso de EP quando da chegada em Curitiba do corpo de João
Gualberto, morto pelos “facínoras” do Contestado...). Lembremo-nos que ele foi
florianista, partidário do “consolidador da República” (o que revela certos
aspectos de sua personalidade), e optou pelo meio militar, quando deixou o
magistério para exercer o cargo de Auditor de Guerra (equivalente a juiz
militar)...
Os poemas de “Ilusão” foram compostos após a Abolição (pelo menos, os
que foram datados abaixo do último verso), por isso não seria de se esperar que
contivessem versos em favor da libertação dos escravos. Mas mesmo em “Músicas”,
seu primeiro livro, publicado em 1888,
não há poemas com tal temática (ver “Anexos”, item 6.1). Na verdade, EP então
discordava daqueles que utilizavam a Arte para servir a outros objetivos que
não fossem os que lhe eram próprios (“Arte pela Arte”). Ele já sustentava tal
concepção, mesmo em seu período romântico, apesar de ser admirador da poesia de
Castro Alves, quando ainda muito jovem (sabe-se, porém, que nos seus tempos de
estudante, em São Paulo, escreveu um panfleto em versos em prol da causa
abolicionista, intitulado ”Carta à Condessa d’Eu”, sob o pseudônimo Vítor
Marinho).
Mas a sua concepção sobre o papel do artista sofreu uma evolução, no
sentido do maior compromisso social: compare-se a sua posição estética em
“Alegoria”, de 1903, com aquela implícita no poema “Hércules”, de 1912.
Quando EP contrapõe o artista à “multidão”, ele o está contrapondo, na
realidade, aos bárbaros, não à gente humilde, por quem, nos poemas, demonstra
muita simpatia, ao elogiar a vida simples da aldeia, o trabalho do lavrador
etc. É gente que vive mais perto da
Natureza... Ele desejaria mesmo ser um simples lavrador (“Solidão” IV),
ou um moleiro, “Sem ambições
jamais do que não vi” (“Solidão” I) em seu
isolamento.
Um espaço considerável, na poesia de EP, é atribuído à caracterização do
artista ou poeta. Este se apresenta sob várias formas, principalmente, a do
cavaleiro empenhado no bom combate. É o cavaleiro andante de outrora em luta
pelos seus nobres ideais, pela Beleza, a sua “dama de olhos verdes”. O cavaleiro luta contra os “bárbaros” pelo
bem e pelo belo, que para EP fundem-se num só objetivo.
O poeta é comparado também a um
rei, a D.Juan, a Erisicton, ao eremita e à criança. Ele é alçado à condição de
rei numa atitude por certo compensatória, pois no mundo dos “bárbaros” não é
suficientemente valorizado. É comparado a D.Juan por ser um eterno
insatisfeito, sempre em busca de novas manifestações da beleza; a Erisicton -- um personagem da mitologia grega
condenado a ter uma fome insaciável, que acaba por devorar-se a si mesmo --
porque também tem uma fome insaciável – a fome de beleza (ou do absoluto) – e
se consome nessa busca. É comparado ao eremita, face ao seu isolamento do mundo
dos bárbaros. Por fim, é comparado à criança, cuja vida também é guiada pelo
sonho, e não por objetivos utilitaristas. Constata-se aqui mais uma influência
marcante da formação cristã de EP, pois
a criança representa, nessa tradição, o ideal de inocência, de sinceridade, de
ausência de pecado. Segundo os Evangelhos, quem não for como as crianças não
entrará no Reino dos Céus...
O artista é ainda referido como ele mesmo, um ser infeliz (porque se
frustra sempre em alcançar seus elevados objetivos), pessimista,
supersticioso...
Em contraposição à realidade dos bárbaros, existe a Natureza, onde o
mundo material se une ao espiritual. Nela o poeta se refugia. Ele a procura
como o religioso procura o templo. Em “Oração da noite”, de “Setembro”,
a Natureza é chamada de “catedral /.../,
Única onde se pode inda falar com Deus”, o que,
aliás, revela a rejeição, por parte de
EP, de qualquer religião organizada.
O poeta se considera profundamente identificado com os diversos elementos
da Natureza, irmanando-se aos pássaros e às árvores, falando a sua linguagem.
Para EP, aqueles elementos também têm alma, e aí ele se revela crente na
metempsicose, como o foram seu mestre Baudelaire e, antes dele, Platão,
Pitágoras e os hindus. Assim, há referências ligeiras às “vidas
anteriores” em certos poemas, pelas
quais, supostamente, ele deve passar antes de alcançar o Paraíso. Nesse
ecletismo filosófico-religioso, misturam-se concepções hinduístas/budistas ao
seu judaísmo/cristianismo de formação.
Certamente, o amor à Natureza foi o que determinou a permanência de EP
em Curitiba. Em 1896 ele retornou, doente, a esta cidade, e a seu sítio dos
Pinhais, depois de morar em São Paulo e Rio de Janeiro, onde levou vida boêmia,
e de um curto período em Minas Gerais.
Frustrou-se aí, por não ter vocação para desempenhar o papel de
magistrado que a comunidade esperava dele, conforme artigo que consta de sua
“Prosa”. Assim, a paisagem do planalto
curitibano -- que devia ser mais bonita naquela época, com as florestas de
araucárias ainda não derrubadas e o rio Iguaçu não poluído – foi para ele
sinônimo de vida, pois era o lugar onde contava recuperar a saúde abalada,
decorrente da vida desregrada que levara nos grandes centros urbanos, aos quais
não mais retornaria, a não ser em viagens de curta duração, o que evidentemente
prejudicou a sua “carreira literária”.
Como saídas oferecidas ao artista acometido pelo tédio da vida, que
busca evadir-se do mundo hostil, dominado pelos bárbaros, são indicadas
explicitamente, na poesia de EP, o sonho (da arte, do ideal), as festas (o
vinho), as viagens (incluindo a última viagem, a morte) e a mulher, ou o amor
sensual.
Inicialmente, o sonho da arte. Para o horror da vida (cf. Flaubert), a
arte representa um meio de salvação. EP, por duas citações que faz, revela como
entende a beleza, que o artista busca “com furor”. Trata-se do verso de John
Keats, que EP escolheu para epígrafe de seu poema dramático “Pena de Talião”,
de 1914 – “A beleza é uma alegria eterna”, e da citação de Stendhal, que serve de epígrafe a “Versos doirados”,
poema que integra “Ilusão” – “La beauté
est une promesse de bonheur”. Assim, para EP, a beleza está
associada no primeiro caso à alegria e no segundo à felicidade. EP lhe dá
também uma conotação metafísica, relacionando-a ao “outro mundo”, ao mundo
transcendente, ao Paraíso cristão enfim, que, por sua vez, é identificado com o
estado de Glória, almejado pelo artista.
O vinho, ou a embriaguez, também representa, para EP -- em sua
faceta dionisíaca -- uma saída para o tédio. O poeta, como Baudelaire, faz o
elogio do vinho, uma forma de evasão pela mudança da paisagem interna (assim
como o são outras modalidades dos “paraísos artificiais”, a que recorrem, hoje
em dia, parcelas crescentes da população, o que também significa,
implicitamente, uma crítica à nossa sociedade). A propósito, Baudelaire já
recomendara, em seus “Pequenos Poemas em Prosa”, que deveríamos viver sempre
embriagados, seja de vinho, de poesia ou de virtude. Mas sempre embriagados...
Note-se aqui a associação da dimensão estética (“poesia”) com a ética
(“virtude”), a mesma que ocorre na poesia de EP.
As viagens representam outra opção para superar o tédio, agora por meio
da variação da paisagem externa. EP as elogia, e recomenda àqueles a quem ama.
Ele expressa frequentemente seu desejo de viajar, “seja para onde for”. No
limite, significa a morte, a última viagem. Esta é sempre associada à imagem do
mar, uma região de travessia obrigatória para alcançar o reino encantado do
espírito. O último verso do soneto “O brigue”, de “Setembro”, diz: “Eu que não sou da Terra e que à Terra estou preso” A Terra tem um duplo sentido: tanto se contrapõe a “mar”, como é nome
também deste mundo, em contraposição ao “outro mundo”... Pela ênfase que EP atribuiu às viagens, e às
outras formas de fuga, que expressam a sua inquietude existencial, foi chamado
por Tasso da Silveira de “poeta de evasão”, o que não significa, segundo esse
autor, ser “poeta de consumpção” (como Mário de Sá Carneiro, por exemplo), haja
vista as suas esperanças no “outro mundo”.
Por fim, existe a mulher, a fuga do tédio pelo amor sensual. É curioso
assinalar que a supervalorização do espírito, revelada em muitos poemas de EP,
não impediu a forte presença da sensualidade erótica em sua poesia (não se
trata da poesia de um asceta...). Aliás, para J.G.Merquior, “Perneta é antes de tudo um bom lírico-erótico”. De fato, seus poemas do amor sensual contam-se dentre os melhores que
compôs, assim como certos versos, que dão um tratamento erótico a determinadas
situações em poemas sobre outros temas. EP chega inclusive a usar eufemismos em
certas passagens mais cruas. Teria havido aqui alguma influência do escritor
naturalista Júlio Ribeiro, o autor de “A carne”, com quem ele trabalhou na
redação na “Gazeta” paulista, e outros jornais?
Como se sabe, EP tinha uma postura eclética com relação às diversas
correntes estéticas, e certamente incorporou algo do Naturalismo às ideias
simbolistas que adotava.
Mas o amor sob forma mais espiritualizada (amor ao próximo) também ocupa
um lugar importante na poesia de EP. Isso é ilustrado por “Para que todos os
que eu amo sejam felizes” e algumas outras composições, em que todo o seu
humanismo cristão vem à tona. Esse humanismo se acentua à medida que o poeta
envelhece, e testemunha o desastre da Primeira Grande Guerra, que atinge
duramente a sua França bem-amada, pátria da Arte e dos poetas que muito o influenciaram— Baudelaire,
Verlaine, Rimbaud etc. A postura humanista é característica principalmente do
estágio final de sua evolução poética, quando o poeta se aproxima da religião,
embora sem optar efetivamente por nenhuma delas. Explicitamente, ele se declara
então crente em Deus. No livro póstumo “Setembro” estão reunidos diversos poemas
religiosos. Todavia, já em “Ilusão” há alguns poemas com tal caráter,
notadamente aqueles dedicados à Virgem Maria. Mas isso não significa opção pela
religião católica, pois nesse mesmo livro consta um poema anticlerical (“Punição
do Herege”).
*
Sob o aspecto estritamente formal, a poesia de EP pode ser assim
caracterizada:
-- os versos são metrificados, rimados, geralmente alexandrinos,
inclusive alguns heterodoxos, divididos em três partes (cesura com acento na 4a,
8a e 12a sílabas), como salientou Nestor Vítor (Verlaine
já os adotara);
-- presença de formas fixas, sonetos e quadras, principalmente; presença
também de muitos poemas mais longos, com versos emparelhados, ou dísticos;
segundo Wilson Martins, seus poemas em dísticos possuem “forte batida rítmica e emocional”,sendo o poeta “geralmente mais
fraco no soneto e, não raro, na metrificação”; 4
-- heterogeneidade da linguagem empregada: linguagem simbolista ou
nefelibata; linguagem de português arcaico; linguagem de sabor lusitano, com
referências a “aldeões”, “fado” e “cornamusa”; linguagem religiosa, semelhante
à das ladainhas; linguagem direta, espontânea (chegando a ser até coloquial, às
vezes);
-- uso frequente da sinestesia;
uso de maiúsculas alegorizantes;
adoção de eufemismos nos versos lírico-eróticos;
-- quanto ao léxico de EP, consta ao final deste capítulo uma relação
(não exaustiva) das palavras empregadas por EP em associação à temática de sua
poesia;
-- EP não faz apenas o uso instrumental das palavras, para expressar as
suas ideias, metáforas e comparações. Faz também uso estético dos fonemas que
compõem as palavras, como é o caso do uso dos sons sibilantes em “Solidão”;
-- EP faleceu em 1921, um ano antes da Semana de Arte Moderna de São
Paulo, que representou um divisor de águas na história da literatura
brasileira. Assim, ele se manteve adepto da métrica tradicional, embora se
permitisse certas liberdades em seu uso, que lhe valeram muitas críticas na
época (principalmente a propósito do livro “Músicas”, de 1888). Quanto ao
conteúdo, suas ideias eram muito eurocentradas, para o gosto modernista. Há
pouca referência às coisas tipicamente nossas nos poemas, exceto aquelas que
aparecem indiretamente, por exemplo, quando menciona elementos da flora e fauna
locais;
-- EP escreveu certa vez: “/.../ exigente da música do verso, até o excesso, como eu /.../” 5. De fato, a musicalidade de seus
versos é geralmente reconhecida,
inclusive pelo seu crítico mais severo (Dalton Trevisan). EP seguia à
risca o conselho de Verlaine -- “De la musique avant toute chose” (aliás, “O
Cenáculo”, em abril de 1897, anunciou a publicação de um estudo de EP sobre
Verlaine, que não chegou a se concretizar). EP chegava a sacrificar a métrica
ou a cesura em benefício da expressão sonora que pretendia alcançar. Apesar de
usar as formas fixas e os versos metrificados e rimados, EP adotou liberdades formais, para adequar-se às suas
necessidades estéticas, preferindo a eufonia a ajustar-se rigidamente aos
padrões da versificação. Para se ter uma
idéia de como devia ser forte, antes de 1922, a pressão da ortodoxia, um de
seus melhores poemas na opinião de Alfredo Bosi, “Fogo sagrado”, não foi
incluído em “Ilusão” certamente por conter tais “licenças poéticas” com relação
à métrica e à cesura (cf. a propósito o comentário, altamente pertinentes, de
Murillo Araújo) 6. EP procurou então, dentro das possibilidades, adotar a metrificação e
as formas fixas a seu modo, sem sacrificar a eufonia ou o ritmo desejado para
compor versos mais “corretos”. Além disso, ele fez um uso estético bastante
significativo das assonâncias, aliterações, rimas internas, polissíndetos etc,
como este trabalho procurou mostrar;
-- as imagens mais frequentemente invocadas nos poemas são as do
cavaleiro, do rei, do sol, da luz, do céu, das estrelas, da noite, da lua, das
trevas, do vento, da chuva, do frio, da neve, da lama, do pântano, do mar, da
montanha, das fontes, das árvores, dos animais, do pássaro, das flores
(girassol, crisântemos, dálias etc): predominam assim as imagens apoiadas nos
elementos da natureza (vide, ao longo deste trabalho, uma amostra das
metáforas, comparações etc imaginadas
pelo poeta e indicadas nos versos aqui transcritos);
-- presença da bizarrice de certos versos e de comparações insólitas;
alguns exemplos:
“As damas, bem como um cavalo,
Sobre esse coração d’abril,
Passaram, quase sem olhá-lo,
Nem abraçá-lo, poeta sutil”. (“Canção do diabo”)
*
“As naus, que vão partir por esse mundo fora,
Miram vaidosamente as caudas de pavão...” (“Hércules”)
*
“Noite. O céu, como um peixe, o turbilhão desova
De estrelas a fulgir. Desponta a lua nova.” (“Dor”)
*
“Mas nada, nem sequer ao menos eu, torcido
O tronco nu, o gesto doido, o pé no ar,
Hei de ver Salomé dançar como S. Guido!” (“Soneto”)
-- presença da personificação dos elementos da natureza;
-- referências frequentes à mitologia greco-latina, judaico-cristã,
histórica e literária/artística. Há uma forte presença do mito nessa poesia,
pois EP o adota para expressar indiretamente a realidade, de acordo com a sua
concepção estética. Não explora contudo a nossa mitologia (mitos e crendices do folclore
brasileiro):
1)
referências à mitologia
greco-latina:
-em “Ilusão”: Apolo, Citera, Marte, fauno, ninfa, Vênus, Zéfiro, Flora,
Juno, Adônis, Mirto, sátiros e dríades, Pã, Leucotéia, Vulcano, Diana, Júpiter,
Eros, Baucis, Filemon, Orfeu, Erisicton,
Metra, Ceres, barca de Caron, rio Estígio, leito de Procusto, Baco, Laís, Orco,
o Olimpo, Endimion, Tântalo, Sileno, Ariadne;
-em “Pena de Talião”: Aurora, Céfalo, Prócris, Ericteu, Júpiter, sátiros
e ninfas;
-em “Setembro”: Silenos, faunos, egipãs (=sátiros), Pã, Juno, Hércules,
leão de Numéia, hidra de Lerna, Prometeu, Dejanira, túnica de Nessus;
2)
referências à mitologia judaico-cristã:
-em “Ilusão”: Herodes, Adão, Babilônia, torre de Babel, rei Salomão,
rainha de Sabá, Arca de Noé, Adão, Jesus Cristo, Jó, Deus, Virgem Maria,
Sulamita, Jerusalém, Sant’Ana, mulher de
Ló, Rei de Baltazar, Sichém, Belém, Sansão, Lúcifer, Satã, Horto das Oliveiras,
Éden, Ofir;
-em “Setembro”: Salomé, Satã, torre de Babel, Jó, Senhor, Jesus, Deus,
Salomão, Belém, Sulamita, Lúcifer;
3)
referências históricas:
-em “Ilusão”: Roland, Ovídio, Júlia, Breno, Messalina, Rei Sol,
Calígula, Tibério, Heliogábalo;
4)
referências literárias/artísticas:
-em “Ilusão”: Marion Delorme, Iago, Rei Lear, Don Juan, Ariel, Ulisses,
Romeu, Doutor Fausto, Tróia, Arlequins;
-em “Setembro”: Pierrot,
Colombina, Romeu, Julieta.
*
Encerrando este capítulo, apresento abaixo um levantamento (não
exaustivo) do léxico de EP associado à temática de sua poesia:
1. O plano superior do espírito
estrelas-
astros- sol- luz- etéreo- céu- azul- azul celeste- linho- nuvens- ideal-
esquisito- alma- sombra- névoa- (região) diamantina- pérola- abismo- marfim-
prata- ouro- pétalas de rosa- fruto- flores- lírio (x lodo)- elevação do
espírito: montanha- escada- torres- asas-
2. O plano inferior da matéria
lama (x luz)-
limo- lodo- chão- charco- pântano- pauis- corpo- pó- pardieiro- prisão
(prisões)- ergástulo- enxovia- calabouço- masmorra- galés- algema- verme- erva
ruim- víboras- espinhos- ódio- podridão- imundície- (mundo coberto de) gafeira-
sangue- carnificina- crimes
3.
A natureza
a)
Os três reinos
Reino mineral: penhascos- rochedos- alcantis- escolhos- serro- monte- montanha-orvalho- fonte(s)- mar- rio-
lago- mármore- sal- poeira- vales- grão d’areia- marfim- tesouro-pérola- ouro- diamante- opala- safira- prata-
esmeralda- cristais
Reino vegetal: relva- musgo- ramo- raminho- ramo de hera- louro- pâmpanos- mata-
bosque- floresta- ébano- sândalo- verbenas- mirto- salgueiro- vime- folhas-
folhagem- asfodelo- nardo- ninho- árvore(s)- arvoredo- pinheiro- tília-
carvalho- mancenilha- palma- palmeira(s)- laranjeira- videira- cinamomo-
alecrim- campos- álamos- choupo(s)- veneno- espinho- horto- jardim- flor-
giesta- girassol- cecém, açucena, lírio- rosas- flor de lis- violeta- jasmim- malmequer- tulipa- anêmonas- fruto- pomos- maçã- romãs-
vindima
Reino animal: leão (leões)- touro- cão (cães)- cadela- hienas- chacais- cordeiro- cordeirinhos-
ovelhinhas- corça- gamo- serpente- verme- gata- animal- batráquios- fera-
rebanho- ovelha (s)- cisne (s)- cera- arminho- lobos- loba- felinas- corcel-
inseto- cigarra- borboleta (s)- abelha- favos- mel- formiga- gafanhoto- cervo-
veado- boi- animais- aranhas- morcego- lebre- cerdos- escaravelho- ave-
andorinha- asas- pavões- gorjeio- pássaro- pombos- passarinho- sabiá- penas-
abutres- colibri- galo- corvos- rouxinol- beija flor- águia- perdiz
b)
Natureza x estados d’alma
A natureza
amiga: sol (de inverno)- luz- calor- aurora- madrugada-
manhã-outono- primavera- dia- sabiá- tarde- paisagem- mata- gorjeio- jardim-
flor- arminho- cigarra- abelha- cão (veadeiro)- gata- pombos- brisa
A natureza
hostil: ventos-
vendavais- temporal- raio- chuva- frio- neve- gelo- noite- trevas- escuridão- inverno- veneno-
espinho- fogo- incêndio- serpente- fera- morcego- batráquios- abutres- escaravelho
(x flor)- seca
4. O mundo dos homens (dos bárbaros e dos humildes)- cidade-
templo- tasca- arado- enxada- chapéu de palha- pão- beco- rua- viela- aldeia-
castelo- torre- torreões- palácios- sinos- solar- quarto- vitrais- espelho-
candeia- cofre- taça- cornamusa- hospital- albergue- leito- estrada- caminho- bastão-
bordão- punhal- dardo- coche- barco (cf.
diversos tipos abaixo)- sofá- sala- alabastros- estátuas- jornal
5. Os personagens desse mundo: o rei (cf. item 7 abaixo)- os grandes- o
cura- Sulamita- povo- plebe- multidão- o moleiro- pobres- pobrezinhos-
humildes- pastores- lavrador- pescadores- o cavaleiro (cf. item 8)- o eremita-
o peregrino- o velhinho- D.Juan- o poeta- o artista- a mulher (cf. item 17)
6. Léxico associado aos bárbaros: abutres-
chacais- serpentes- monstros- reptis- cegos e surdos- bestas feras- feras-
ladrões- carrasco
7. Léxico associado ao rei: manto-
púrpura- trono- cetro- brasões- reino- luxo- glória- fausto- diadema (rainha)-
orgulho- crueldade- ambição- veludo- seda- ouro- vaidade- requinte- pavão
8. Léxico associado ao cavaleiro: armadura- arnês- casco- plumas-
boldrié- escudo- broquel- lança- espada- alfanjes- gládio- adaga- punhal-
cavalo- luta- refrega- peleja- guerras- combate
9. Léxico associado ao artista/poeta: doido- criança- cavaleiro
(cf. item 8)- beleza- febril- furor (pela beleza)- belo- feio- mal- sonho-
ilusão- infeliz- pessimista- cruel- nervoso- cego- pombo- rei (cf. item 7)-
D.Juan- furor- menestréis- manto- púrpura (tecido)- ramo d’hera (glória)-
eremitério- ermitão- torre- palácio- fauno- funâmbulo- pássaro- águia- doutor
Fausto
10. Léxico associado ao tédio: (dia) fusco- (luz)
mortuária- fumo- soturna- cloaca- luto- cinza- betume- cerdos- batráquios-
lama- doente- natureza hostil (cf. item 3.b)- monstro
11. Léxico associado ao sonho
a) da arte: arte- artista- beleza- belo- feio-
estátua- música- hino- canção- cantiga- lied- fado- cornamusa- violão- flauta-
clarim- lira- violino- saltério- dó- ré- mi- fá- sol (clave)- sonata- cores
(cf. item 12)- poeta- versos
b) do ideal: ideal- bem- mal- justiça- abraço-
eremitério- túnica (=ideal)- vela (=ideal)
12.Cores mencionadas: verdes- azul celeste- azul ferrete-
vermelho- brancas- azul- azulado- róseas- rubras- cor de rosa- negro- doirado-
roxo- lilás- alvas- amarela- rosa- carmim- oiro- escarlate- esverdeada-
rosicler- púrpura
13. Léxico associado ao vinho: festas- dança- lupercal-
embriaguez- embriagado- ébrio- bêbedo- vinho- taça- copo
14. Léxico associado à viagem: mar- cais- barco- barca-
embarcação- brigue- vela- galera- trirreme- nau- batel- balsa- viagem-
peregrino- bastão- bordão
15. Léxico associado à morte: sono- letargo- ossos-
esqueleto- túmulo- enterro- funerais- cadáver- luto- jazigo- cova-
vermes- vala- prata- luar- outono- corvos- pesadelo- algema
16. Léxico associado ao tempo que passa: juventude-
mocidade- moço- velhinho- velhinhos- criança- infância- lembrança- saudade-
tempo
17. Léxico associado à mulher/ ao amor sensual: mulher-
virgem- donzelas- flor- girassol- cecém- lírios- flor de lis- tulipa- rosa-
maçã- pecadora- Lúcifer- serpente- torres de marfim- torres de safira- pérola-
pérolas- astro(s)- pastora- rainha- orgulho- púrpura- gata- Sulamita- carnes-
seio- ventre- olhos- tranças- desejo- cabelo- cabeleira- perfume- louro- pele-
morenas- lábios- ombros- espáduas- nudez- nua- estátua- punhal- dardo- desejo-
eufemismos (destilador- mirra- abrir as portas- fogo- incêndio- ardor- beber
desse vinho- comer desse pomo)
18.Sentimentos & sensações- amor- ódio- ira- cólera- orgulho-
vaidade- fé- alucinação- volúpia- voluptuosidade- paixão- decepção- desilusão-
desenganos- desespero- desesperação- furor- anseio- ansiedade- ambição- ilusão-
horror- suspiros- desejo- prazer- tédio- enojo- desprezo- desdém- esperança-
gozo- lírico- sombrio- solidão- paz- felicidade- piedade- mágoa- saudade-
agonia- êxtase- vingança- crueldade- pena- tristeza- pesar- melancolia- choro-
soluço- alegria- riso- fome- sede- ardor- febre- febre esquisita- frescor-
delírio- alegria esquisita- frio
19. Léxico religioso: águas lustrais- monge- templo- incenso-
Deus- Senhor- Maria- Jesus Cristo- mãe (Sant’Ana)- cruz- fé- prece- oração-
diabo- diabólico- satã- demônios- anjo- burel- estamenha- altar- círio- pecado-
virtude- sobrepelizes- hissope- saltério- padre-nossos- sinos- (render) graças-
(Nossa) Senhora- (sê) bendita- votos
20. Virtudes & pecados:
a) virtude- bondade- bom- sincero- humildade- Justiça
b) pecado- traição- falsidade- Babilônias- egoísmo- luxúrias- orgulho-
vaidade- monstro- poço- perfídia- serpente- verme- Mal- cóleras- enojo
21.Esoterismo, superstição, fatalismo: mistério- véu- outro
mundo- advinhos- bruxa- agoureiros-
maldição- azar- desgraça- destino- sina- sorte- ventura- treze- três- diabo-
satã- súcubo- espectros- fantasma- além
22. Arcaísmos: oelhos- hei sofrido- mui longes- El-rei- mi (m)
23. Palavras onomatopaicas: dlem, dlom
Notas ao capítulo 4
1 Apud LYRA, Pedro- “Conceito de poesia”. São Paulo,
Ática, 1986- p.6
2 LACERDA, Cassiana Lícia de-- “Passeio Público:
primeiro parque público de Curitiba”. Boletim Informativo da Casa Romário
Martins”. Curitiba. Fundação Cultural- v. 28, nº 126, agosto 2001, p. 97
3 CARPEAUX, Otto Maria – “História da Literatura
Ocidental”, v.V, Rio de Janeiro, Ed. O Cruzeiro, 1963, p. 2259
4 MARTINS, Wilson—“História da Inteligência
Brasileira”- v.V (1897-1914)- 2a. ed.- S.Paulo, T.A. Queiroz, 1996,
p. 471.
5 “Obras completas de Emiliano Perneta”- 1º v.-
“Prosa”- Curitiba, Gerpa, 1945, p. 252
6 Cf citação de Murillo Araújo em MURICY, Andrade – “O
Símbolo à Sombra das Araucárias” (memórias)- Conselho Federal de Cultura e
Departamento de Assuntos Culturais, 1976, p. 232
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